O PÃO ESTÁ CONTAMINADO


Estamos no ano de 2010, ano de copa do mundo. Enquanto nos deliciamos na política do "pão e circo", o Brasil permanece defendendo o vergonhoso título de campeão mundial de uso de agrotóxico. Assim como na Roma antiga, hoje a população se distrai permanecendo passiva aos problemas que a cerca. Pior ainda é que agora o "pão" está contaminado. O Brasil tem sido o destino final do escoamento de agrotóxicos banidos em outros países. De acordo com reportagens publicadas no jornal "O Estado de São Paulo", em 30 de maio de 2010, nas lavouras do Brasil "são utilizados pelo menos dez produtos proscritos na União Européia, Estados unidos e um deles até no Paraguai". O motivo é simples. O governo deveria apressar a reavaliação destes produtos, como previsto na legislação. No entanto, a lentidão se deve ao fato de empresas de agrotóxicos e o sindicato das indústrias entraram com ações na justiça suspendendo tal procedimento. Em uma destas ações o próprio Ministério da Agricultura se posicionou contra a restrição. Só depois que as liminares foram suspensas, em 2009, é que as análises continuaram. Enquanto isso, de 14 produtos que deveriam ser submetidos à avaliação, só uma decisão foi tomada: a cihexatina, empregada nas culturas de citros, será banida a partir de 2011. Até lá seu uso será permitido no estado de São Paulo. Enquanto se protela as decisões, o uso de agrotóxicos sob suspeita de afetar a saúde aumenta. Ou seja, enquanto permanecem como produtos candidatos à revisão, nós consumimos o lixo que outras nações rejeitam. Da lista de 2008 três produtos aguardam a análise que deve ser feita em conjunto pelo IBAMA, Ministério da Agricultura e Anvisa. Representantes das indústrias criticam o formato de reavaliação. Dizem que não há critérios para escolha dos produtos incluídos na lista e criticam a Anvisa por falta de transparência. No entanto, seis, de sete indústrias de agrotóxicos vistoriadas pela Anvisa entre julho de 2009 e maio deste ano, tiveram a linha de produção interditada e o material apreendido por irregularidades. Os problemas vão do uso de matéria-prima vencida à alteração da fórmula registrada no país. Foram encontrados até produtos onde foram adicionas essências aromáticas, como tática para camuflar o cheiro do veneno e desta forma tornar o produto mais tolerável para o agricultor e para a população que vive no entorno das fábricas. As indústrias já analisadas têm cerca de 80% do mercado nacional. Das unidades inspecionadas só uma não teve a produção interditada. Mesmo assim, não se livrou da autuação por omissão de informações. Segundo o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), meio pelo qual a Anvisa acompanha os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos consumidos pela população há, além do abuso de defensivos, emprego de produtos proibidos para algumas culturas. A últma avaliação revelou, por exemplo, que 64% das amostras de pimentão analisadas apresentaram uso de defensivos proibidos para a cultura, dentre eles o endossultam e o acefato, que estão sendo agora reavaliados. Mas agora não temos tempo para isso. Afinal, em alguns dias nossa seleção entrará em campo no mundial da África do Sul defendendo a nossa pátria amada, não é mesmo?

Produtos que estão em processo de avaliação pela Anvisa
Tabela retirada do jornal "O Estado de São Paulo", página A24, 30 de maio de 2010.

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