Urban Homestead - Alta eficiência em pequenos espaços


Seguindo na linha das fazendas urbanas, um bom exemplo deste tipo de prática é o vivido pela família Dervaes. O projeto chama-se Urban Homestead (Sítio Urbano) e localiza-se em Pasadena, nos EUA. Jules e os filhos Justin, Anais e Jordane são sitiantes urbanos que têm tornado sua residência cada vez mais independente. Cultivam verduras, legumes e frutas em pequenos espaços urbanos, além de criarem abelhas, galinhas e coelhos. Também alimentam fermentos naturais e assam os próprios pães. De acordo com Jules, conforme publicado em reportagem do jornal O Estado de São Paulo, "comida cultivada em casa é muito superior em sabor e nutrientes do que a que vem do supermercado. Além disto, não é mais saudável só para você, mas também para o ambiente". 
Nesses tempos de reflexão sobre o espaço urbano e discussões acerca do Plano Diretor das principais cidades do Brasil, como acontece em São Paulo, projetos como este têm que ser considerados. E não há receitas e protocolos a serem seguidos. De acordo com Jules, transportar o modelo de grandes fazendas para um espaço reduzido custou muito trabalho físico e mental, sendo o atual sucesso do projeto o resultado de tentativas e erros.
Para mais informações sobre o projeto da família Dervaes, acesse a reportagem publicada no caderno "Paladar" do jornal O Estado de São Paulo:
http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos-paladar,occupy-seu-quintal,4717,0.htm
Assista também um breve documentário do projeto vivenciado na Urban Homestead:

Fazendas Urbanas em Londres

Uma reportagem publicada no site da Folha de São Paulo mostra fazendas urbanas em Londres. Muitas destas fazendas vendem produtos, como manteiga, queijo e leite de cabras e vacas, frutas, verduras e ervas produzidas no local. As administrações regionais costumam dar apoio financeiro às fazendas, que oferecem raras possibilidades de interações homem-terra/seres vivos existentes no modelo de vida rural, mas quase inexistente no ambiente urbano. Em algumas das fazendas, grupos de escolas locais podem participar de sessões de produção de queijo e manteiga e assistir à ordenha de vacas e cabras. Entre os objetivos das fazendas urbanas, está a conscientização de populações de cidades sobre atividades agrícolas, de forma a esclarecer a relação entre alimentos e animais e plantas. 

Para ver a matéria completa acesse:
http://www1.folha.uol.com.br/bbc/1125620-fazendas-urbanas-sao-enclaves-rurais-no-centro-de-londres.shtml

Ser ou não ser... Orgânico, eis a questão!

O que diferencia o alimento orgânico do convencional em termos nutricionais, afinal?
Fonte: Portal Orgânico
Tânia Rabello

Referência quando se trata de alimentos orgânicos e nutrição, dra. Elaine de Azevedo esclarece, nesta entrevista, muitas dúvidas básicas de quem opta por consumir orgânicos e busca argumentos científicos e bem embasados para isto. Alimentos orgânicos são, afinal, mais nutritivos do que os convencionais? Quais os riscos de ingerir doses mínimas de resíduos de agrotóxicos diariamente, mesmo que tais doses estejam dentro dos padrões permitidos pela Anvisa? Qual a funcionalidade dos alimentos orgânicos? Adianta lavar alimentos com resíduos de agrotóxicos? Esta e outras dúvidas dra. Elaine, formada nutricionista pela UFPR, com mestrado em agroecossistemas e doutorado em sociologia política pela UFSC, além de pós-doutorado em saúde pública pela USP, responde com clareza. Seu interesse pelos orgânicos parte da premissa de que o conceito de alimento saudável deve ser expandido em toda rede de produção: saudável para as plantas e animais, para quem produz, para o meio ambiente, para quem consome. O início de sua formação começou com um curso de aperfeiçoamento em medicina antroposófica, que dá prioridade ao consumo de alimentos biodinâmicos. Em estágios realizados em clínicas e hospitais antroposóficos na Alemanha, Áustria e Suíça, conheceu o movimento ambientalista europeu, que acolhia a discussão sobre o impacto da agropecuária sobre a saúde e meio ambiente. Desde que voltou ao Brasil, em 1991, vem se dedicando a divulgar os benefícios dos alimentos orgânicos entre o público leigo e os especialistas. Hoje, dedica-se a ministrar palestras e cursos sobre consumo sustentável, riscos ambientais e sistema agroalimentar, qualidade do alimento orgânico e agricultura e saúde coletiva em diversas instituições e eventos em todo o Brasil. Atualmente é professora na Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Grande Dourados, em Mato Grosso do Sul e é diretora de Conteúdo do Portal Orgânico. Outra novidade é que seu livro, um dos mais consistentes compêndios sobre alimentos orgânicos já publicados em língua portuguesa, "Alimentos Orgânicos", deverá ser reeditado ainda neste semestre pela Editora Senac. Vamos às dúvidas. E aos fatos.
PORTAL ORGÂNICO: Os alimentos orgânicos são mais nutritivos do que os convencionais? 
DRA. ELAINE: Primeiro de tudo é bom lembrar que existem vários aspectos de qualidade do alimento orgânico. O valor nutricional é um deles. Mas existem outros, como toxicidade, que é o principal diferencial, durabilidade e características sensoriais, como sabor, cor e textura. Podemos dizer que, a princípio, os orgânicos não têm maior valor nutricional, e sim melhor valor nutricional. 
PORTAL ORGÂNICO: Por quê? 
DRA. ELAINE: Vamos fazer uma relação com o ser humano. Quando comemos demais, não quer dizer que estejamos bem nutridos. Ao contrário. Pode surgir uma tendência à obesidade. E, se comemos pouco e mal, ficamos desnutridos. O ideal, então, é termos a qualidade e a quantidade de nutrientes adequada para a nossa espécie. Nas plantas é a mesma coisa. O solo deve fornecer o necessário, não o excesso. Um solo saudável, enriquecido com adubos orgânicos, é rico em muitos tipos de minerais. Os vegetais cultivados convencionalmente, à base de fertilizantes sintéticos – compostos unicamente de grandes quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio de alta solubilidade, o adubo NPK –, acabam absorvendo grandes quantidades de nitrogênio do solo. Por isso, formam mais proteína, mas também mais nitrogênio livre, criando um desequilíbrio interno na planta. Esses vegetais que têm nitrogênio em excesso atraem mais pragas e por consequência tem-se que usar mais agrotóxicos para combatê-las. Ou seja, ter mais proteína não significa necessariamente ser um alimento mais saudável. Já a planta cultivada organicamente recebe e absorve somente os nutrientes de que precisa e tem um equilíbrio no valor nutritivo em geral. Não me refiro especificamente a carboidratos, lipídios e proteínas, que, tanto nos alimentos orgânicos quanto nos convencionais, são formados pela ação da luz solar, pela fotossíntese. Nisso eles podem ser muito semelhantes. Aliás, não são esperadas grandes diferenças de valor nutritivo entre orgânicos e convencionais. 
PORTAL ORGÂNICO: Então o que diferencia o alimento orgânico do convencional em termos nutricionais, afinal? 
DRA. ELAINE: É a qualidade do solo. Há pesquisas realizadas com alguns alimentos vegetais que comprovam a superioridade de minerais dos orgânicos. São poucas pesquisas ainda, mas nelas se provou que é no teor de mineral que o alimento orgânico pode se diferenciar do convencional. E existem estudos que mostram que o teor dos minerais nos alimentos diminuiu muito por causa dos métodos da agricultura convencional. Por isso os especialistas receitam cada vez mais suplementos sintéticos. Os solos estão pobres; os alimentos produzidos neles também.  
PORTAL ORGÂNICO: Além do equilíbrio mineral, há mais alguma diferenciação entre o orgânico e o convencional? 
DRA. ELAINE: Sim. Também é comprovado por meio de pesquisas que os alimentos orgânicos têm maior teor de fitoquímicos, substâncias como isoflavona, sulforaceno e licopeno, foco da nutrição funcional. No tomate orgânico, por exemplo, há maior teor de licopeno. Essas substâncias têm diferentes funções no organismo e na planta elas funcionam como um sistema de defesa; ou seja, o sistema imunológico da planta produz fitoquímicos. Os vegetais orgânicos têm que desenvolver um sistema de defesa mais eficiente porque não recebem o agrotóxico que controla as doenças. Novamente, comparando com o organismo humano, se o corpo está bem nutrido (como uma planta orgânica), ele tem um sistema de defesa que produz anticorpos de forma mais eficiente. A planta produz fitoquímicos. E, no caso de alimentos de origem animal, os orgânicos têm, comprovadamente, gordura de melhor qualidade, porque os animais criados organicamente têm a possibilidade de caminhar, ciscar, se movimentar. Aí também comparo conosco: quando fazemos exercícios regularmente, temos gordura corporal de melhor qualidade. Há várias pesquisas que comprovam que os alimentos orgânicos de origem animal (carnes, leites, ovos) têm taxas iguais de ômegas 3 e 6, maior teor de ácidos graxos insaturados e menores teores de ácidos graxos saturados. É bom ressaltar que o teor de gordura de proteína animal orgânica não é maior nem menor. É melhor. 
PORTAL ORGÂNICO: São gorduras melhores para o nosso organismo absorver, é isso? 
DRA. ELAINE: A gordura insaturada eleva o nível de lipoproteína de alta densidade no sangue (HDL ou “colesterol bom”) e reduz o nível de lipoproteína de baixa densidade no sangue (LDL, ou “colesterol ruim”). Quando citei a relação entre ômegas 3 e 6, que é de um para um, isso indica também que a gordura é de melhor qualidade. A relação de equilíbrio entre os dois tipos de ácido linoléico (3 e 6) ajuda a evitar os problemas associados ao consumo excessivo de ômega 6 na dieta. Entre tais problemas estão as doenças cardíacas; a arteriosclerose; alguns tipos de câncer; hipertensão; colite e alguma doenças ósseas São assuntos bastante técnicos e o mais fácil é dizer: são alimentos que apresentam gordura de melhor qualidade, uma vez que o animal se exercita.  
PORTAL ORGÂNICO: Há pesquisas que comprovam efetivamente tudo isso? 
DRA. ELAINE: Sim. Há várias que demonstram o teor aumentado de fitoquímicos e a qualidade da gordura animal. Em alguns vegetas pesquisados também foi comprovado o maior equilíbrio de minerais. No teor de proteínas, carboidratos e lipídios, porém, se fala em controvérsias na pesquisa. É uma controvérsia que, na verdade, não vai se diluir, porque não se esperam diferenças entre orgânicos e convencionais no quesito valor nutricional. E é um aspecto difícil de pesquisar. O simples transporte do alimento, a quantidade de luz solar ou água que a planta recebe já mudam o valor nutricional, então é um aspecto que precisa ter muito controle para a realização de estudos comparativos. Mas de qualquer maneira não é sob esse aspecto que se pode dizer: ah, é aí que os orgânicos se destacam. Não é por aí. Eu insisto que o valor nutricional não é o aspecto mais importante para definir a qualidade de um alimento. É muito reducionista.  
PORTAL ORGÂNICO: O fato de alguns alimentos orgânicos serem mais caros em alguns casos não seria neutralizado então pelo maior benefício que eles proporcionam à saúde? 
DRA. ELAINE: Bem, você já respondeu. Digamos, porém, que este valor mais caro é algo relativo, já que os orgânicos efetivamente proporcionam maior benefício à saúde. Não só à saúde humana, mas também à saúde do meio ambiente, que, por tabela, também acaba refletindo na saúde humana. Então esse adicional de preço justo – que deve ser justo, e não 100% a mais, ou um preço especulativo – já implica tratar-se de alimento de melhor qualidade. Todo e qualquer produto melhor custa mais. Então a própria lei do mercado está implícita no alimento também. O produto orgânico é mais caro porque tem melhor qualidade. Mas, repito, não pode ser um preço abusivamente mais caro que torne o alimento elitizado. Pensando de outro modo: no caso dos alimentos convencionais, que são mais “baratos”: qual o real valor de um alimento barato que promove exclusão social do agricultor familiar, causa doenças e ainda degrada o meio ambiente? Que barato é este? É preciso pensar de forma sustentável a médio e longo prazos.  
PORTAL ORGÂNICO: Quais os riscos de diariamente ingerirmos resíduos de agrotóxicos, mesmo que eles estejam dentro dos padrões da Anvisa? Não há o risco de acumulação no organismo, pois se diariamente ingerimos a dose recomendada em vários produtos, não teríamos no fim uma grande quantidade de resíduos ingerida? 
DRA. ELAINE: Então, esta é uma pergunta difícil de responder. E explico por quê: os efeitos dos agrotóxicos são cumulativos. Aliás, todo problema relacionado à alimentação tem esse efeito. Mas não há como comprovar, literalmente, se o câncer que determinada pessoa teve depois de 30 anos consumindo alimentos convencionais está relacionado ao agrotóxico. Há estudos que mostram a relação de vários tipos de câncer com alguns agrotóxicos e, mais recentemente, detectou-se a relação entre o Mal de Parkinson e agrotóxicos na França. Mas todas essas doenças são multicausais. Não é só o agrotóxico que causa o câncer. E é justamente a multicausalidade das doenças que torna extremamente difícil a gente dizer qual é a dose inócua para o organismo. Não dá para dizer: qual é a dose certa do veneno?  Veneno é veneno. Se você usar pouco, com certeza o efeito vai ser mais de longo prazo. É aquela história: se você fumar pouco, continua sendo maléfico, mas você vai ter o efeito a mais longo prazo do que se fumar muito. Se alguém bebe o agrotóxico, morre. Se usa um pouquinho ao longo da vida, poderá ter uma doença crônica, não aguda. Mas continua a ingerir veneno e as consequências disso vão aparecer um dia. Outra coisa é que a “quantidade certa” de ingestão de agrotóxicos também não existe. É veneno. Vai ter repercussão em alguma instância. Mas nós não estamos ingerindo a quantidade certa. Estamos ingerindo mais, daí é difícil calcular riscos.  
PORTAL ORGÂNICO: Então estamos ingerindo em excesso? 
DRA. ELAINE: Claro. A gente nunca ingeriu na quantidade certa, tanto é que a Anvisa tem mostrado os alimentos que estão fora dos padrões. E, além disso, consumimos venenos já proibidos em outros países. É um abuso. 
PORTAL ORGÂNICO: Mas boa parte das irregularidades detectadas na Anvisa era referente a uso não permitido de agrotóxicos em determinadas culturas, e não necessariamente ao excesso de limites. 
DRA. ELAINE: Esse é outro problema que enfrentamos. Entretanto, olha só: estou agora acabando de redigir uma pesquisa com alguns produtores de Dourados (MS), onde eu dou aulas na universidade. E os grandes produtores acham simplesmente que, se usar a dose certa, recomendada, não tem problema. Isso é recorrente. Mas essa realidade, efetivamente, nós não conhecemos.  
PORTAL ORGÂNICO: Você acha então que o agricultor utiliza acima da dose certa? 
DRA. ELAINE: Sim. Especialmente o pequeno agricultor, aquele que produz alimentos para nosso consumo. Não se sabe, porém, nem se o uso na dosagem certa seja melhor ou inócuo. Assim como também não temos ainda estudos conclusivos que mostram que há mais câncer no Brasil por causa de agrotóxicos. Em algumas regiões de uso intensivo de agrotóxicos, como a região do fumo, por exemplo, há maior índice de suicídios e depressão relacionados ao uso de agrotóxicos do que em regiões onde não se cultiva fumo. Essa falta de conclusões científicas é que permite que se continue usando. Para nos deixar ainda mais intranquilos, nos países com maior controle do uso e quantidade de agrotóxicos também aparecem estudos e repercussões dos seus efeitos, como a França e a Inglaterra. Ali também existem preocupações relacionadas ao uso de agrotóxicos, inclusive doenças não ocupacionais, ou seja, aquelas não ligadas diretamente a quem trabalha com agrotóxicos. Há várias pesquisas no meu livro, que mostram os efeitos do uso de agrotóxicos nas populações no entorno de áreas de uso intensivo de veneno. E também nas populações em geral. Aqui, no Brasil, começamos recentemente a nos preocupar com o controle de agrotóxicos e órgãos como a Anvisa e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) começam a se mobilizar mais efetivamente. Estamos ainda dentro do critério de risco e não de perigo. Explico: perigo a gente conhece a causa (com pesquisas provando, como o perigo do fumo); risco a gente não pode provar, como os agrotóxicos. Estamos bem dentro deste critério de risco para discutir agrotóxicos. São várias conjecturas e várias questões que se entrelaçam para chegarmos ao nível de formularmos um possível perigo.  
PORTAL ORGÂNICO: Como está a pesquisa ligada à nutrição e agrotóxicos no Brasil? 
DRA. ELAINE: A área da saúde coletiva tem se preocupado mais e existe preocupação cada vez maior na relação de doenças e agrotóxicos. Na área da nutrição a pesquisa é quase inexistente. Poucos nutricionistas e médicos incorporaram o conceito orgânico no contexto de qualidade alimentar. Quem tem o interesse de apoiar essas pesquisas? A Abrasco acabou de lançar um dossiê sinalizando a escassez de pesquisas na área. 
PORTAL ORGÂNICO: Há maneiras de eliminar os resíduos de agrotóxicos nos alimentos? 
DRA. ELAINE: Não, eliminar não. A grande maioria dos agrotóxicos é metabolizada até a semente. Então, o que você tira na lavagem é o excesso da casca. Pode retirar utilizando uma escovinha e tal, mas só retira o excesso, e não o agrotóxico metabolizado pela planta. Não tem como retirar. Ele não fica só na casca. O que você retira na higienização é o excesso. E eu sou contra tirar a casca de um alimento – fonte de fibras e nutrientes – porque temos que diminuir o veneno. Tem que ser orgânico, tem que ser sem veneno.  
PORTAL ORGÂNICO: Nem com o agricultor respeitando as carências exigidas pelo fabricante antes de vender o alimento? O agrotóxico não se degradaria naturalmente até o prazo de consumir o produto? 
DRA. ELAINE: Não, pois, cumprindo a carência, o que se faz é diminuir exatamente a alta periculosidade do alimento. Se alguém consumir um alimento cuja carência ainda não tenha vencido, esta pessoa estará justamente consumindo veneno em excesso, numa quantidade bem maior do que a recomendada. Agora, pensa bem: a planta metaboliza o veneno, “degrada” e vai para onde? Para algum lugar o agrotóxico tem de ir. É comum um agricultor dizer: “A terra anula o veneno”. Ou seja, ela absorve ou ele evapora. Ou fica na terra, no lençol freático, ou volta como chuva ácida. Um efeito tóxico não se anula. Não tem como sumir. PORTAL ORGÂNICO: Há diferença de sabor entre o alimento orgânico e o convencional? 
DRA. ELAINE: Sim, há diferença. Os mais sensíveis percebem o gosto do veneno em alguns alimentos convencionais. Mas só posso dizer que os orgânicos têm sabor (e também cor, textura, odor) original. Se o sabor é melhor ou pior, é uma questão individual. Por exemplo, tem gente que não gosta de leite orgânico, que lembra “vaca”. Que prefere leite longa vida, industrializado com um sabor que remete ao chocolate; ou questiona a galinha orgânica, caipira, que tem um sabor “mais forte”. Dá para dizer que é melhor? Não. Dá para dizer que é um sabor original do alimento. Agora, existem pesquisas em vegetais que mostram que cenouras e maçãs são mais adocicadas, com maior teor de açúcares. Outro exemplo, a cor amarela intensa do ovo orgânico pode gerar nojo em algumas pessoas, que podem preferir um ovo mais esbranquiçado. Características sensoriais do alimento orgânico é uma questão bem subjetiva. Mas os sabores são diferenciados e por isso os chefs têm preferido os orgânicos. 
PORTAL ORGÂNICO: Quais os benefícios de consumir orgânicos? 
DRA. ELAINE: Bem, quase todos os benefícios têm a ver com a saúde. O primeiro é que você vai ter alimentos com menor toxicidade e menos resíduos de contaminantes (não só agrotóxicos, mas também adubos, aditivos, drogas veterinárias), que duram mais e que têm um valor nutricional equilibrado e características sensoriais originais. Existe outro aspecto, que é o ambiental. Ao consumir orgânicos, você está preservando a saúde do meio ambiente, que afeta a sua saúde. Quando você compra orgânicos, cuida da qualidade do seu ar, da sua água, da sua terra. Não é o meio ambiente lá fora. É a sua saúde via meio ambiente, porque não dá pra ser saudável respirando um ar poluído e bebendo água contaminada. Porque eu falo isso? Porque as pessoas conseguem pensar o meio ambiente muito fora de si mesmas. Mas o cuidado com o meio ambiente deve começar com seu corpo, sua primeira casa. Hoje o agricultor é o cara que detona ou cuida do seu meio ambiente. Do seu ar, da sua água, da sua qualidade de vida. O terceiro aspecto é que a agricultura orgânica é quase sempre feita por agricultores familiares. Ao consumir orgânicos, você apoia essa forma de agricultura, que é o sistema que produz seu alimento. Não é o agronegócio que produz o que você come no Brasil. Ele produz para exportar. Se você não apoia o pequeno agricultor porque acha que não tem nada a ver com ele, pense pelo menos individualmente: de onde virá sua comida? Se eu ajudo o agricultor a ficar no meio rural, tenho a longo prazo uma cidade de melhor qualidade, com menos desemprego, menos violência, e isso interfere na nossa saúde, que é a saúde social. O que eu gosto muito de enfatizar é que o alimento orgânico tem três âmbitos, que é o da saúde humana, social e ambiental e todos eles têm uma íntima relação com a saúde do indivíduo. Essa é uma forma de pensar saúde de um modo amplo e não reducionista. Comer é um dos atos mais complexos que a gente faz cotidianamente.

Para mais: www.portalorganico.com.br

E aí, se animou para consumir orgânico? E que tal produzir? 

Melhorando o ar da cidade

Dicas de plantas que ajudam a melhorar a qualidade do ar urbano:

Reconhecimento à pioneira da Agroecologia no Brasil

No dia 22/07/2012, o jornal O Estado de São Paulo dedicou uma página do caderno "Vida" à reportagens sobre a Prfa. Dra. Ana Primavesi, pioneira da agroecologia no Brasil. Para facilitar, coloco abaixo uma das reportagens e, em seguida, o link para as outras.

PIONEIRA DA AGROECOLOGIA RECEBERÁ PRÊMIO MUNDIAL

TÂNIA RABELLO - Agência Estado

A modéstia permeia as declarações da engenheira agrônoma Ana Primavesi quando ela se refere ao One World Award - o principal prêmio da agricultura orgânica mundial, conferido pela International Federation of Organic Agriculture Movements (Ifoam). Neste ano, foi ela a escolhida para receber a homenagem, na Alemanha.
"Eles distribuem o prêmio entre os vários continentes. Agora, foi a vez da América do Sul", comenta uma das precursoras do movimento orgânico no Brasil. "Estão me premiando por toda parte... Não sei para que isso", acrescenta, quase encabulada.
E ouve, em seguida, que a homenagem que receberá no dia 14 de setembro, com a participação de mais de mil pessoas, entre elas a vencedora do prêmio Nobel Alternativo da Paz, a indiana Vandana Shiva, é mais do que merecida, pelo trabalho que vem fazendo, há 65 anos, pela agricultura ecológica, auxiliando lavradores a tornarem suas terras produtivas e limpas, em harmonia com o ambiente, eliminando o uso de agrotóxicos e adubos químicos.
"Pois é... Pelo jeito...", sorri Ana Primavesi, que arremata: "Dizem que eu inventei a agricultura orgânica. Conscientemente, não. A gente sempre trabalhou dessa forma".
Impactos positivos
Instituído em 2008, o One World Award é conferido a cada dois anos a ativistas da agricultura orgânica no mundo. São pessoas cujo trabalho impacte positivamente a vida dos produtores rurais.
Em 2008, quem ganhou o prêmio foi o veterinário e professor alemão Engelhard Boehncke, por suas práticas e estudos em relação à criação orgânica de animais. Há dois anos, foi a vez do indiano pioneiro em agricultura orgânica Bhaskar Salvar, que, logo no início da década de 1950, contrapôs-se à
Revolução Verde - que inaugurou o uso de adubos sintéticos e agrotóxicos nas lavouras -, ensinando agroecologia aos produtores, com o uso de fertilizantes orgânicos, a manutenção da vida no solo e o fortalecimento das plantas por meio de um ambiente equilibrado.
Neste ano, Ana Primavesi será a agraciada. Aos 92 anos, austríaca naturalizada brasileira, formada pela Universidade Rural de Viena, é Ph.D. em Ciências Agronômicas e especializada em vida dos solos. Publicou vários artigos científicos e livros sobre o assunto, mas um deles, Manejo Ecológico do Solo (Editora Nobel, 552 páginas, reeditado mais de 20 vezes), é uma das bíblias da produção orgânica e leitura obrigatória nas faculdades de Agronomia do País.
A obra é citada no livro Plantas Doentes pelo Uso de Agrotóxicos, de Francis Chaboussou, no qual prova que pragas e doenças não atacam plantas cujos sistemas estejam equilibrados. E que são os adubos químicos e os agrotóxicos que atraem os parasitas, gerando um ciclo de dependência, com nefastas consequências para o planeta.
Preservação
Desde 1947, quando iniciou sua vida profissional, e por meio de aulas na Universidade Federal de Santa Maria (RS), Ana Primavesi vem batendo na tecla da preservação da vida no solo. Em aulas, palestras, conferências, debates, assistências técnicas diretas aos produtores rurais e a suas associações, a engenheira agrônoma repete frases que se tornaram mantras.
E quem as coloca em prática vê os resultados na produção, na preservação e na saúde de quem planta e de quem consome os alimentos agroecológicos: "O segredo da vida é o solo, porque do solo dependem as plantas, a água, o clima e nossa vida. Tudo está interligado. Não existe ser humano sadio se o solo não for sadio e as plantas, nutridas."
Observação
Tanto que a primeira coisa que ensina aos agricultores que a procuram é olhar para a terra. "Se o solo tem uma boa estrutura, o agricultor tem grande chance de modificá-lo e convertê-lo para a agricultura orgânica", diz. "Terra com boa estrutura forma grumos, que nada mais são que o entrelaçamento de microrganismos que conferem vida ao solo e saúde às plantas, além de permitirem a infiltração da água. Em solos compactados e sem vida, água vira enxurrada e provoca erosão."
Ana Primavesi lembra que uma planta precisa de no mínimo 45 nutrientes para se desenvolver e produzir de forma saudável. "A agricultura convencional dá, no máximo, 15 desses nutrientes para as plantas. E nem sempre esses 15 nutrientes são integralmente ministrados às lavouras convencionais", diz.
O resultado são plantas deficientes nutricionalmente e frágeis aos ataques de pragas e doenças, dependentes, portanto, do uso de agrotóxicos.
É justamente a maneira de devolver esses nutrientes ao solo que Ana Primavesi ensina aos agricultores. Ela lembra de agricultores na cidade de Diamantina, em Minas Gerais, que há cerca de 15 anos a procuraram porque já não conseguiam produzir com o pacote convencional.
"Eles estavam a desanimados, quase falindo, porque a cada ano a terra respondia menos às adubações", conta. "Começamos a melhorar o solo e a qualidade dos nutrientes, passando a aplicar adubações orgânicas", continua. "Demorou uns quatro a cinco anos, mas agora eles produzem com fartura. Há uns anos voltei lá e vi como estavam felizes com a produção orgânica", conta Ana, ressaltando que a recompensa sempre vem. "O problema é que ela não é rápida, e muitos desistem." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Outras reportagens:

O VENENO ESTÁ NA MESA

Para assistir ao documentário na íntegra acesse o link abaixo:

SÃO PAULO VAI MORRER

João Whitaker   
Sábado, 26 de Maio de 2012

       As cidades também morrem. Há meio século, o lema de São Paulo era “a cidade não pode parar”. Hoje, nosso slogan deveria ser “São Paulo não pode morrer”. Porém, parece que fazemos todo o possível para apressar uma morte anunciada. Pior, o que acontece em São Paulo tornou-se infelizmente um modelo de urbanismo que se reproduz país afora. A seguir esse padrão de urbanização, em médio prazo estaremos frente a um verdadeiro genocídio das cidades brasileiras.
       Enquanto muitas cidades no mundo apostam no fim do automóvel, por seu impacto ambiental baseado no individualismo, e reinvestem no transporte público, mais racional e menos impactante, São Paulo continua a promover o privilégio exclusivo dos carros. Ao fazer novas faixas para engarrafar mais gente na Marginal Tietê, com um dinheiro que daria para dez quilômetros de metrô, beneficia os 30% que viajam de automóvel todo dia, enquanto os outros 70% se apertam em ônibus, trens e metrôs superlotados. Quando não optam por andar a pé ou de bicicleta, e freqüentemente demais morrem atropelados. Uma cidade não pode permitir isso, e nem que cerca de três motociclistas morram por dia porque ela não consegue gerenciar um sistema que recebe diariamente 800 novos carros.
       Não tem como sobreviver uma cidade que gasta milhões em túneis e pontes, em muitos dos quais, pasmem, os ônibus são proibidos. E que faz desaparecer seus rios e suas árvores, devorados pelas avenidas expressas. Nenhuma economia no mundo pode pretender sobreviver deixando que a maioria de seus trabalhadores perca uma meia jornada por dia – além do duro dia de trabalho – amontoada nos precários meios de transporte. Mas em São Paulo tudo se pode, inclusive levar cerca de quatro horas na ida e volta ao trabalho, partindo-se da periferia, em horas de pico.
        Uma cidade que permite o avanço sem freios do mercado imobiliário (agora, sabe-se, com a participação ativa de funcionários da própria prefeitura), que desfigura bairros inteiros para fazer no lugar de casas pacatas prédios que fazem subir os preços a patamares estratosféricos e assim se oferecem apenas aos endinheirados; prédios que impermeabilizam o solo com suas garagens e aumentam o colapso do sistema hídrico urbano, que chegam a oferecer dez ou mais vagas por apartamento e alimentam o consumo exacerbado do automóvel; que propõem suítes em número desnecessário, o que só aumenta o consumo da água; uma cidade assim está permanentemente se envenenando. Condomínios que se tornaram fortalezas, que se isolam com guaritas e muros eletrificados e matam assim a rua, o sol, o vento, o ambiente, a vizinhança e o convívio social, para alimentar uma falsa sensação de segurança.
        Enquanto as grandes cidades do mundo mantêm os shoppings à distância, São Paulo permite que se levante um a cada esquina. Até sua companhia de metrô achou por bem fazer shoppings, em vez de fazer o que deveria. O Shopping Center, em que pese a sempre usada justificativa da criação de empregos, colapsa ainda mais o trânsito, mata o comércio de bairro e aniquila a vitalidade das ruas.
        Uma cidade que subordina seu planejamento urbano a decisões movidas pelo dinheiro, em nome do discutível lucro de grandes eventos, como corridas de carro ou a Copa do Mundo, delega as decisões de investimentos urbanos não a quem elegemos, mas a presidentes de clubes, de entidades esportivas internacionais ou ao mercado imobiliário.
        Esta é uma cidade onde há tempos não se discute mais democraticamente seu planejamento, impondo-se a toque de caixa políticas caça-níqueis ou populistas, com forte caráter segregador. Uma cidade em que endinheirados ainda podem exigir que não se faça metrô nos seus bairros, em que tecnocratas podem decidir, sem que se saiba o porquê, que o mesmo metrô não deve parar na Cidade Universitária, mesmo que seja uma das maiores do continente.
        Mas, acima de tudo, uma cidade que acha normal expulsar seus pobres para sempre mais longe, relegar quase metade de sua população, ou cerca de 4 milhões de pessoas, a uma vida precária e insalubre em favelas, loteamentos clandestinos e cortiços, quando não na rua; uma cidade que dá à problemática da habitação pouca ou nenhuma importância, que não prevê enfrentar tal questão com a prioridade e a escala que ela merece, esta cidade caminha para sua implosão, se é que ela já não começou.
        Nenhuma comunidade, nenhuma empresa, nenhum bairro, nenhum comércio, nenhuma escola, nenhuma universidade, nem uma família, ninguém pode sobreviver com dignidade quando todos os parâmetros de uma urbanização minimamente justa, democrática, eficiente e sustentável foram deixados para trás. E que se entenda por “sustentável” menos os prédios “ecológicos” e mais nossa capacidade de garantir para nossos filhos e netos cidades em que todos – ricos e pobres – possam nela viver. Se nossos governantes, de qualquer partido que seja, não atentarem para isso, o que significa enfrentar interesses poderosos, a cidade de São Paulo talvez já possa agendar o dia se deu funeral. Para o azar dos que dela não puderem fugir. 

João Sette Whitaker Ferreira, arquiteto-urbanista e economista, é professor da Faculdade de Urbanismo da Universidade de São Paulo e da Universidade Mackenzie.

Após este texto de João S. W. Ferreira, deixo abaixo um vídeo, para inspirar a criação de novos habitats urbanos e para que possamos tirar São Paulo do seu avanço no corredor da morte. Porpostas para que cada um cumpra seu papel, para que possa posteriormente exercer com pleno respeito pressão sobre o poder público.

TRANSGÊNICO AMEAÇA PRODUÇÃO DE ORGÂNICO

De acordo com reportagem publicada no jornal Folha de São Paulo, de 24/06/2011, o cultivo de variedades transgênicas de soja e de milho está ameaçando a frágil cadeia de produção orgânica no sudoeste do Paraná -área cujo perfil fundiário é o da pequena propriedade rural.
A dificuldade na obtenção de grãos convencionais e a deficiência da logística são apontadas como as responsáveis pela contaminação da produção.
“Está cada vez mais difícil obter sementes não transgênicas para os produtores orgânicos. Além disso, há o problema da contaminação na colheita ou no transporte da safra”, afirma Marcio Alberto Challiol, diretor da Gebana, empresa com sede em Zurique, Suíça.
A Gebana, especializada na comercialização de soja, milho e trigo orgânicos, negocia por ano 10 mil toneladas de cereais do Brasil. É uma gota, diante dos volumes da safra brasileira.
Mas a história desse modelo de produção (livre de agrotóxicos e de transgênicos) tem relevo não pelos volumes, mas como prova de que a prerrogativa da Lei de Biossegurança no Brasil não está sendo cumprida.
ABANDONO
A liberação de mais de 20 variedades de soja, milho e algodão transgênico no Brasil se deu sob a condição de que todo agricultor que queira uma produção convencional ou orgânica terá esse direito assegurado.
A falta de controle, tanto na produção de sementes como na logística para segregar OGM (organismos geneticamente modificados) e não OGMs, está burlando essa condição no Brasil.
O impacto econômico está levando pequenos produtores a abandonar esse cultivo. Paulo Sobrinho Mackiewicz, produtor do município de Capanema -650 quilômetros a oeste de Curitiba-, é um dos que desistiram do orgânico.
Na última safra, Mackiewicz havia negociado a produção com prêmio de 35% além do valor da saca de soja convencional. Após meses de trabalho duro para evitar o uso de uma gota de veneno, a má notícia.
A produção de 54 toneladas de soja estava contaminada com sementes transgênicas. O prêmio de 35% foi perdido, um corte na receita no valor total de R$ 9.000, uma cifra importante para a propriedade.
“Fiz o possível. Trabalhei duro para conseguir um preço melhor para a soja. A contaminação, que não tenho ideia de onde veio, acabou com tudo. Depois disso, desisti do orgânico. Não vou fazer tudo novamente sem ter garantia”, disse.
PREJUÍZO GRANDE
A Gebana, empresa que lhe forneceu a semente, afirma que não havia contaminação no material genético. A suspeita, então, recaiu sobre a colheitadeira alugada por Mackiewicz, que poderia ter restos de soja transgênica.
Delézio Caciamani, 40, também produtor da região, enfrentou o mesmo problema. Plantou 32 hectares de soja orgânica e também perdeu o prêmio de 35%. Perdeu R$ 12,6 mil com a contaminação dos grãos.
“O cultivo orgânico é muito mais trabalhoso. O prêmio que é pago por saca torna essa produção mais competitiva. Mas, se você perder esse benefício, o prejuízo fica grande”, afirma.
Mais pela convicção da importância em produzir com menos agroquímicos, Caciamani vai manter-se no método orgânico por mais uma safra. Fará isso não sem um fio de preocupação.
Veja entrevista com produtores no PR

Para a CTNBio, não dá para ter pureza total
DE SÃO PAULO
O vice-presidente da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), Aluízio Borém, afirma que as medidas criadas pela instituição são eficientes para evitar contaminação de sementes transgênicas na produção convencional ou orgânica.
“É necessário que as medidas de coexistência sejam observadas. As evidências científicas mostram que não haverá contaminação se forem respeitadas a diferença temporal entre o plantio transgênico e o convencional, bem como o respeito à separação espacial entre esses cultivos”, afirma o vice da CTNBio.
O especialista em melhoramento de plantas disse ainda que não é possível assegurar pureza total nessas produções.
“Contaminação zero não existe, o que deve haver é o respeito a níveis que possam ser admitidos”, afirma.
Sobre eventual falha no controle das regras da CTNBio, o vice-presidente afirmou que a comissão não possui mandato para fiscalização, atribuição essa de órgãos ligados ao Ministério da Agricultura.
Borém afirma que, em 13 anos em que a Comissão de Biossegurança autorizou o plantio comercial de variedades transgênicas de milho, soja e algodão (as únicas liberadas até agora) não existe nenhuma evidência de problemas à saúde humana ou de efeitos danosos ao ambiente.

Meta é ter cadeia de semente não modificada
DO ENVIADO ESPECIAL A CAPANEMA
Um programa entre a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Abrange (Associação Brasileira dos Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados) tenta instituir estrutura alternativa para barrar o avanço das companhias multinacionais no domínio do agronegócio nacional.
O programa Soja Livre tenta criar canais de acesso a sementes não OGM por parte dos produtores de soja e milho. A estrutura, com presença em Mato Grosso, é uma reação à redução da oferta de material genético livre de transgênicos. Hoje, 35% da soja e 65% do milho brasileiros são convencionais, não transgênicos.
Após a liberação de eventos geneticamente modificados, as grandes companhias de biotecnologia do mundo estão concentrando esforços para o desenvolvimento de sementes transgênicas, deixando de lado o chamado melhoramento clássico.
“Essa é uma guerra comercial. As múltis, com os transgênicos, ganham em todo o pacote tecnológico que põem na propriedade do agricultor. Da semente aos defensivos, chegando até os royalties pelo uso da tecnologia. É isso que queremos romper”, disse Ivan Domingos Paghi, diretor técnico da Abrange.
Segundo César Borges de Souza, presidente da Abrange, todo o custo para evitar hoje a contaminação de sementes, do plantio, do transporte ou da armazenagem é de quem produz não OGM.
“Isso virou um buraco negro. O governo aprovou os transgênicos e pronto. O governo não toma conta da organização da cadeia. Assim, quem trabalha com não OGM é que ficou com o ônus da segregação”, disse.
Hoje, o Brasil ainda é o maior produtor e exportador de soja não transgênica. A exportação desse produto no ano passado atingiu 9 milhões de toneladas. (AB)

2014 SERÁ O ANO INTERNACIONAL DA AGRICULTURA FAMILIAR

A ONU declarou 2014 como o Ano Internacional da Agricultura Familiar. A agricultura familiar foi eleita tema do ano pelos 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU). Durante reunião realizada em dezembro, a Assembleia Geral da ONU declarou 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar. A declaração inédita para o setor é resultado do reconhecimento do papel fundamental que esse sistema agropecuário sustentável desempenha para o alcance da segurança alimentar no planeta. “Com esta decisão, a ONU reconhece a importância estratégica da agricultura familiar para a inclusão produtiva e para a segurança alimentar em todo o mundo – num momento em que este organismo vem manifestando sua preocupação para com o crescimento populacional, a alta dos preços dos alimentos e o problema da fome em vários países”, analisa o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence. A declaração é considerada uma vitória das 350 organizações de 60 países ligadas à agricultura familiar que apoiaram uma campanha iniciada em fevereiro de 2008 em favor dessa decisão, na qual o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) teve papel importante. É considerada também êxito da atuação da Coordenação de Produtores da Agricultura Familiar do Mercosul (Coprofam) da qual participa a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag), ambas com atuação na Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar do Mercosul (Reaf). “Foi uma vitória importante do ponto de vista político para fortalecer a agricultura familiar em todo o mundo. A Contag esteve mais de dois anos empenhada nessa campanha. Essas 350 organizações se uniram para sensibilizar governos a fim de que ela fosse reconhecida como instrumento de erradicação da fome de mais de um bilhão de pessoas, a estabelecer um tipo de agricultura que mantenha gente no campo e a fortalecer o sistema de agricultura familiar”, afirmou o presidente da Contag, Alberto Broch. Florence salienta que a agricultura familiar – a qual no Brasil produz 70% dos alimentos consumidos pela população - já é prioridade da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e que a própria eleição do brasileiro José Graziano para a direção geral da organização foi um dos sintomas dessa nova atitude. “Graziano coordenou a elaboração e foi o responsável pela implantação do programa brasileiro Fome Zero, que assegurou a alimentação regular de milhares de brasileiros que estavam em situação de fome. O ministro lembra que o governo brasileiro, por meio do MDA, tem impulsionado o setor da agricultura familiar por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que fechou 2011 com uma carteira de crédito ativa de R$ 30 bilhões, mais de 3,2 milhões de contratos ativos e com inovações importantes para a melhoria da qualidade de vida e geração de renda do segmento, como o Programa de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). “Aperfeiçoar o crédito, a assistência técnica, o apoio à comercialização e as políticas públicas construídas ao longo dos últimos anos e aprimoradas em 2011 são nossos objetivos para 2012”, disse o ministro. Em artigo recente publicado em jornal de grande circulação, o diretor-geral recém empossado da FAO, José Graziano, afirmou que “a agricultura familiar, considerada por muitos um passivo, na verdade é um ativo estratégico dessa travessia. Ela aglutina a carência e o potencial de milhares de comunidades em que se concentram os segmentos mais frágeis da população. Qualquer ganho na brecha de produtividade aí ampliará substancialmente a disponibilidade de comida na mesa dos mais pobres e de toda a sociedade, reduzindo a dependência em relação a alimentos importados e protegendo a economia da volatilidade das cotações internacionais”. Na avaliação do chefe da Assessoria para Assuntos Internacionais e de Promoção Comercial do MDA, Francesco Pierri, trata-se de uma declaração importante porque fortalece o modelo da agricultura familiar perante as instituições multilaterais e a comunidade internacional. “Não é uma proclamação vinculante, porém, ela é forte. Basta ver a atenção às comunidades afrodescendentes que ocorreu em 2011 e, em 2012, será o Ano Internacional das Cooperativas, ou seja, esperamos que ocorram avanços nesse setor”, disse Pierri. Segundo ele, “a expectativa no MDA é que com essa declaração, também os blocos regionais passem a se ocupar da agricultura familiar de forma conjunta, tais como o faz o Mercosul por meio da Reunião Especializada sobre Agricultura Familiar (Reaf)”, observa. De acordo com dados de 2007 do Banco Mundial, “atualmente há três milhões de pessoas que vivem em zonas rurais cuja maioria se dedica à agricultura ou à pecuária familiar e tem essa produção como principal meio de subsistência, porém têm acesso limitado à terra e a outros recursos financeiros e tecnológicos necessários para fazer da agricultura familiar uma empresa viável”. O documento final da Conferência Mundial de Agricultura Familiar, realizadas em outubro do ano passado, intitulado “Alimentar o mundo, cuidar do planeta”, dá conta de que atualmente há 1,5 milhão de agricultores familiares trabalhando em 404 milhões de unidades rurais de menos de dois hectares; 410 milhões cultivando em colheitas ocultas nos bosques e savanas; entre 100 e 200 milhões dedicados ao pastoreio; 100 milhões de pescadores artesanais; 370 milhões pertencem a comunidades indígenas. Além de mais 800 milhões de pessoas que cultivam hortas urbanas. No Brasil, segundo o Censo Agropecuário de 2006, entre 1996 e 2006, havia 13,7 milhões de pessoas ocupadas na agricultura familiar.


A agricultura familiar no Brasil

A agricultura familiar é hoje responsável por 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006 – o mais recente feito no país -, são fornecidos pela agricultura familiar os principais alimentos consumidos pela população brasileira: 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38,0% do café, 34% do arroz, 58% do leite, possuíam 59% do plantel de suínos, 50% do plantel de aves, 30% dos bovinos, e produziam 21% do trigo. No Censo Agropecuário de 2006 foram identificados 4,3 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares, o que representa 84,4% dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Este segmento produtivo responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (12,3 milhões de pessoas). Pela lei brasileira (11.321/2006) que trata da agricultura familiar, o agricultor familiar está definido como aquele que pratica atividades ou empreendimentos no meio rural, em área de até quatro módulos fiscais, utilizando predominantemente mão-de-obra da própria família em suas atividades econômicas. A lei abrange também silvicultores, aquicultores, extrativistas e pescadores.

A ONU DECLAROU. SERÁ EM 2014. E VOCÊ? TOPA COMEÇAR DESDE JÁ?
CASO SIM, MÃOS À HORTA!